quinta-feira, 15 de maio de 2008

Esta é a tua safra

Minha filha, junto a teus irmãos não lamentem nem digam,
coitada da mamãe...
Ninguém é coitada, nem eu.
Somos todos lutadores.

Se souberes viver, aproveitar lições, escreverás poemas.
Teus cabelos brancos serão bandeiras de paz.
E viverás na lembrança das novas gerações.

Não te queixes jamais das mãos vazias que sacodem lama.
E pedaços rudes de um passado morto, não sejam revividos,
sem mais empenho senão enxovalhar, ferir e destruir.

Recria sempre com valor
o pouco ou o muito que te resta.
Prossegue. Em resposta ao néscio
brotará sempre uma flor escassa
das pedras e da lama que procuram te alcançar.
Esta é a tua luta.

Tua vida é apagada. Acende o fogo nas geleiras que te cercam.
O tardio poema dos teus cabelos brancos.
Recebe como oferta as pedras e a lama da maldade humana.
Esta é a tua safra.

Cora Coralina

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