quinta-feira, 5 de julho de 2012

Para Caio, meu filho

Foi como abrir uma noz e encontrá-la apodrecida.
Não foi como pôr sal, mas sim como urinar na ferida.

Era como se na sala, há décadas, a luz houvesse queimado
e o pó só fizesse juntar tentando prender o presente ao passado.

De futuro, é certo, não havia nada, sequer um perfume.
Havia, ao contrário, a certeza de uma noite sem vaga-lumes.

E tudo isso, que antes não importava, agora era urgência.
E mesmo que não houvesse perfume, n'algum canto talvez permanecesse a essência.

E dela, de alguma forma, um sorriso de criança se construiria -
um sorriso com a firmeza da montanha e a certeza do meio-dia.

Um sorriso que só para cantar se desfizesse,
ou para chorar as raras lágrimas que a alma enobrecem.

Não era hora de manter o juízo
mas sim de assegurar o sorriso
da criança
que era de resto o seu próprio.

Era embriagar-se de vez
para finalmente ser sóbrio.

Era um sono calmo que viria,
e também alegria.

Duvidava, mas conseguiria.

Raphael Negrão

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